“O muro é sempre o pior lugar para se ficar”
Um dos assuntos que mais movimentou a mídia nestas últimas duas semanas foi a questão dos apoios eleitorais de quem não foi para o segundo turno das eleições. No caso das eleições presidenciais, o clima foi tenso. Embora já esteja comprovado que não se transfere 100% dos votos de um candidato para outro, os apoios podem decidir a eleição. No caso de Marina Silva, terceira colocada na eleição presidencial, o seu apoio poderá ter forte impacto no resultado final. A sua coligação, com vários partidos, se movimentou na semana seguinte à eleição e todos se posicionaram a favor de um, do outro, ou da neutralidade. Esperava-se que ela se decidisse até o dia 09 de outubro e fizesse, conforme prometido, um anúncio oficial. Na hora “H”, cancelou o pronunciamento e continuou, tecnicamente, em cima do muro. Finalmente, no domingo seguinte, foi ao ar e se posicionou definitivamente. Na visão de alguns, este atraso foi justificável. Na de outros, ela deveria ter se posicionado bem antes e não havia motivo para tanta demora.
Entendo as razões e sei que um apoio formal de um político a alguém que acabara de ser seu adversário é delicado. Pode comprometer o seu futuro e seus planos nas próximas eleições. Porém, prometer se pronunciar em uma data e não o fazer é bem pior. Tanto é que não bastou um único dia para começarem as piadas. “Marina tomou uma decisão – Não decidir”. Três dias depois de prometer e não cumprir, ela convocou a imprensa e anunciou a sua decisão de apoio a um candidato. O dano foi pequeno, mas poderia ter sido pior. Até porque na eleição anterior, quando ficou também em terceiro lugar, ela decidiu não apoiar ninguém. Desta vez, se ficasse em cima do muro de novo, apanharia muito e teria a sua imagem bem desgastada.
Trouxe este tema atual para este espaço para, mais uma vez, reforçar algo que venho defendendo há anos e constantemente aqui no nosso espaço – o muro é sempre o pior lugar para se estar. O mundo atual tem mais punido do que premiado quem não decide, quem não se compromete e com quem quer ficar bem com todos. Esta postura de não decidir e de permanecer em cima do muro é a pior de todas, na minha visão. Já usei aqui várias vezes o mesmo termo: “No mundo dos adultos, decide-se e ponto. Colhe-se o bônus e paga-se o ônus”. Mas o que não pode é não decidir. A indecisão é a pior decisão, sempre.
Ao longo da nossa carreira, as encruzilhadas são muitas. Decisões sobre trocar de emprego, aceitar ou não um convite para um novo projeto ou uma nova função, concordar ou não com opiniões alheias sobre um determinado assunto etc. A lista de situações onde temos que escolher entre A ou B é infindável. E muitos, muitos mesmo, cedem à tentação de não se comprometer, hora por medo de errar na escolha, hora por achar que é possível se colocar em uma situação onde vai agradar a todos. Em ambos os casos, pura ilusão. Estes, aos permanecerem em cima do muro, perdem muitos pontos e arranham a sua imagem de forma muito profunda, porque pessoas que não decidem não inspiram confiança. Pessoas que não decidem não são vistas como potenciais líderes. Líder decide. Às vezes erra, à vezes acerta. Os bons acertam mais do que erram, mas decidem. Colhem as informações que precisam, avaliam riscos e impactos e decidem. Ponto. Isso é o que se espera de pessoas fortes e preparadas para a liderança – capacidade de decisão. Nunca omissão. Aliás, a omissão também é uma decisão, mas a pior de todas.
Marina Silva decidiu, talvez demoradamente, mas decidiu. E você? Tem algum assunto que aguarda a sua decisão? Se a resposta for sim, decida. Pare de empurrar com a barriga. Coloque data para decidir e decida. Se acertar, parabéns. Se errar, contabilize o erro, levante-se e siga para a próxima decisão. Mas nunca sente-se no muro e fique lá. Esse lugar é perigoso, muito perigoso, além de péssimo para a imagem que formarão de você na carreira e na vida. Até o próximo!
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