Você realmente aproveita suas férias? Por incrível que pareça essa tão merecida e esperada pausa nas atividades de trabalho pode representar um grande problema para muitos profissionais. E às vezes para sua família também.
Certa vez ocupei a posição de Gerente de Recursos Humanos em uma empresa de médio porte. Dois meses depois de eu ter assumido o cargo uma colaboradora experiente entrou em férias. Ela disse que eu poderia acioná-la a qualquer momento em seus dias de descanso porque não iria viajar, e estaria à disposição até para ir à empresa se fosse necessário! Pelo que me contou essa era uma prática comum. Eu lhe disse para ficar tranquila que não a incomodaria. Ela continuou insistindo… Dias depois houve um grande evento de treinamento na empresa e o diretor a quem eu me reportava sugeriu fortemente que eu interrompesse as férias da colaboradora para que ela acompanhasse as atividades. Eu lhe disse que assumiria a responsabilidade por tudo, mas preferia não chama-la. Ele relutou, mas concordou. Resultado? Nada saiu errado. Estávamos preparados. Observei que interromper o descanso anual dos funcionários era um processo “cultural” bem instalado na organização. E trazia seus prejuízos.
Normalmente, podemos enxergar em três fases as dificuldades em relação as férias:
1) Problemas antes das férias. Uma pesquisa da International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR) aponta que 41% de 745 entrevistados demonstraram resistência para tirar férias. Mais da metade deles (53%) teme que sejam tomadas decisões na empresa enquanto estiverem ausentes e 24% têm receio da demissão. Recomendações: Planeje. Delegue. Procure preparar pessoas para desempenharem as funções rotineiras principais sob sua responsabilidade; mantenha tudo organizado – lista de contatos, arquivos, documentos – para que em sua ausência encontrem com facilidade; se não houver outra solução, determine dia e horários específicos para atender o celular (e responder e-mails) no período de ausência; lembre-se que o descanso é importante para o equilíbrio de sua vida, e afeta positivamente sua carreira.
2) Problemas durante as férias. Conheço alguns profissionais que, “em nome do progresso na carreira” interrompem suas férias constantemente. Telefonemas, conferências à distância, e-mails, relatórios, e outras ocupações de trabalho. Fazem parte do seu dia de férias. Claro que há emergências, imprevistos, situações de força maior. Entretanto, quando isso acontece ano após ano, trata-se já de um padrão. E os efeitos são contundentes. Vejamos alguns: problemas familiares são muito frequentes; o nível de estresse aumenta não só pelo trabalho contínuo, mas pela frustração em não atender a outras áreas de sua vida que necessitam de atenção; as solicitações de trabalho são cada vez mais recorrentes, pois na empresa todos já contam com a disponibilidade do colaborador; essa dedicação não proporciona necessariamente progressos na carreira. Recomendações: Planeje. Delegue. Se a sensação é de que sem você a empresa para, então há muito que fazer em termos de planejamento e delegação. Comunique a todos que estará ausente por um período, a quem devem se dirigir nesse tempo para os casos sob sua responsabilidade, e mantenha um contato na empresa que possa acioná-lo apenas em casos de fato emergenciais e relevantes.
3) Problemas após as férias. Parece estranho, mas após um período de descanso o profissional pode ter um efeito de “depressão pós-férias”. Isso acontece porque há uma mudança abrupta de ritmo, de tipos de atividades, e também uma sensação de ‘perda de controle’ sobre a sua vida. Segundo o International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR), cansaço, sono, preguiça, falta de concentração e de motivação, do 15º ao 30º dia após o descanso trabalhista, sinalizam a depressão pós-férias. Pesquisas do ISMA apontam que as principais causas desse tipo de depressão são a insatisfação no trabalho (93%) – quando não há perspectiva de crescimento ou aperfeiçoamento profissionais -, a hostilidade ou não-confiabilidade no ambiente corporativo (71%) e os conflitos interpessoais (49%). Recomendações: Aproveite o período de férias para se distrair, descansar. Revigore-se! Procure retornar de viagens com um pouco de antecedência: o período de um a dois dias antes de iniciar o trabalho permitem que você organize suas rotinas e adapte-se aos poucos à nova fase. Repense sua carreira. Se realmente estiver descontente com seu trabalho, vale mesmo a pena continuar? Assuma as rédeas da sua carreira.
Sabemos que para tudo há exceções, mas um profissional que consegue aproveitar bem suas férias, em geral sabe como planejar seu trabalho, como delegar, como dirigir sua carreira e como equilibrar sua vida pessoal/profissional.
Abraço, e ótimas férias!
Adriano Pedro Bom
Adriano Pedro Bom é consultor, docente universitário e palestrante nas áreas de Gestão de Pessoas.
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