Um recado para líderes e aspirantes a líderes.
Nunca ouvi ninguém dizer que não tenha bom senso. E em quantia suficiente para tomar as melhores decisões no ambiente profissional, ao menos. A conta não fecha porque, por outro lado, já ouvi dezenas de vezes pessoas dizendo que outras carecem de bom senso. Principalmente ‘chefes’ comentando sobre atitudes dos seus colaboradores. Será que estão todos falando de conceitos diferentes?
Vejo também muitas análises a respeito: “Esse trainee tem ótima iniciativa, é muito aplicado, responsável, procura se desenvolver sempre, mas lhe falta bom senso”. Uma vez que trabalho diretamente com Educação Corporativa, esse tema sempre me intrigou. Será então possível capacitar alguém a ter bom senso? A resposta é sim e não.
Inicialmente, vale conhecer algumas definições de “Bom Senso”:
- Segundo o dicionário “Houaiss” (2009): “Capacidade de distinguir o verdadeiro do falso, o bom do mau, o bem do mal; julgamento correto e equilibrado”.
- Segundo o dicionário “Caudas Aulete” (2011): “1. Capacidade ou habilidade de distinguir o certo do errado, o verdadeiro do falso, o conveniente do inconveniente etc. 2. Capacidade ou habilidade de, numa situação nova, saber julgá-la com bom senso (1) e agir de acordo”.
Pelo visto, as definições não ajudam muito. Onde se espera encontrar a resposta para o que é certo ou errado? O que é conveniente e inconveniente? E diferenças entre bom e mau? Culturas diferentes levarão a respostas diferentes. Portanto, culturas organizacionais diferentes poderão ter posições diferentes a respeito. A discussão seguiria sem fim, envolvendo ética, moral, religião, filosofia, etc. Não é possível capacitar alguém a ter bom senso universal.
Então como ficamos no ambiente organizacional?
Há organizações que pretendem resolver parte da questão estabelecendo claramente seus princípios e um código de conduta para seus colaboradores. Isso ajuda muito, mas não resolve tudo. Há sempre a possibilidade de uma nova questão surgir sem que se tenha previsto como agir a respeito. E há decisões estratégicas e técnicas, dentre outras, que não podem ser delimitadas por um código.
Há também uma definição que elaborei observando a prática (infelizmente) em muitas das organizações que conheço:
- “Bom senso é a forma como o chefe pensa a respeito do que é certo ou errado, verdadeiro ou falso, conveniente ou inconveniente, etc.”.
Parece cômico (e tem seu lado ridículo), mas isso tem provocado muitos problemas. É mais uma desculpa (ou falta de visão) de alguns líderes para evitarem pensar na realidade: faltam definições claras de responsabilidade e autoridade, não há procedimentos estabelecidos, não há capacitação suficiente, não se estabeleceu o hábito de aprender com erros e acertos, não há comunicação efetiva, a delegação é inadequada, etc. É possível capacitar as pessoas a lidarem adequadamente com estas atividades.
Quando essa lição de casa for feita, podemos falar sobre bom senso. Aliás, aí então talvez esse termo possa ser substituído por outro ainda melhor: capacitação.
Abraço, e sucesso!
Adriano Pedro Bom
Adriano Pedro Bom é consultor, docente universitário e palestrante nas áreas de Gestão de Pessoas.
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