“Sempre há um pé ideal para qualquer sapato”
Enquanto isso, dois pares de sapatos conversavam no guarda-roupas…
– Cara, como você tá lindo! Que brilho!
– Obrigado. O chefe me levou hoje para o engraxate. O cara caprichou, não acha?
– Claro, mas por que hoje? Algum evento importante?
– Sim, hoje vamos a uma linda festa. Ouvi o chefe falando ao telefone. Chama-se festa da promoção.
– Ah, sei. Parabéns. Vou ficar aqui, como sempre… esperando ser levado para uma festa dessas. Aliás, espero por isso há anos.
– Você? Esquece! Você é um sapato básico. Não vai nunca para uma festa de gala. Você é para o dia a dia. Para as coisas básicas. Sempre quando ando com o chefe ouço quando ele fala de você. Ele até reconhece seus talentos, mas não para eventos especiais. Ele acha que você está onde merece.
Horas depois, o “chefe”, chamado Antônio, e um amigo estão na sala conversando e se preparando para a festa, quando o amigo pergunta:
– Cara, só tenho uma dúvida – com que sapato vou à festa de hoje. Você já escolheu o seu? Não estou gostando muito desse aqui.
– Claro que escolhi, até o levei para dar um brilho hoje, André. Mas tenho outros vários no guarda-roupas. Pode escolher o que quiser e usar hoje.
– Poxa, obrigado Antônio. Posso ir ao seu quarto escolher um?
– Claro! Fora o meu predileto que está separado e brilhante, pode escolher qualquer um. Vai lá!
Não demorou muito para o amigo voltar todo satisfeito.
– Pronto, escolhi esse aqui. Pode ser? Achei lindo. Olha que personalidade que ele tem! Confortável, eclético e ousado. Parece muito bom. Posso usá-lo hoje? – perguntou André.
– Cara, você tá falando sério? Esse sapato é básico demais. Serve para o dia a dia e olhe lá.
– Você acha? Eu não concordo. Ele é lindo e tem muito potencial! Posso usá-lo ou não?
– Ok, ok. Se você gostou tanto assim, não só pode usá-lo como pode ficar com ele. Nem gosto tanto dele assim. Ele é seu. Para sempre. É até bom que libera lugar no armário.
E assim a conversa acabou. Ambos se vestiram, calçaram seus sapatos e seguiram para a festa. Ao chegarem, o anfitrião logo olhou para os dois amigos de cima em baixo e disse:
– Bem-vindos, amigos! Como estão elegantes! André, que sapato lindo! Onde comprou? Que bom gosto que você tem, cara!
– Não comprei, meu amigo. O Antônio acaba de me dar de presente. Ele não gostava mais dele. Nem ia trazê-lo para a festa da promoção. Vou cuidar bem dele e usá-lo bastante, especialmente em ocasiões especiais com esta. É bárbaro, não?!
– Antônio, você sempre teve problema de reconhecer o que é bom! Descarta o sapato mais bonito e vem com essa coisa feia aí! – debochou o anfitrião.
Antônio ficou magoadíssimo. Mas isso era só o começo. Onde chegavam, os elogios aos sapatos do André pipocavam. O arrependimento foi chegando aos poucos ao ver que acabara de dispensar um utensílio que, para ele, no máximo poderia ser chamado de básico, mas, que, para os outros era uma preciosidade. Antônio não curtia mais a festa. Curtia apenas o arrependimento.
Por fim, decidiu tentar reverter a tolice que tinha feito jogando uma última carta:
– André, você não acreditou que eu lhe dei esse sapato, não foi? Era brincadeira, viu? Você me devolve depois da festa?
– Ha, ha, ha! Nem pensar. Você foi claríssimo ao dizer que esse sapato era básico e sem valor para você. Quem não dá valor ao que tem merece perder. Agora ele é meu! E ponto! Presente dado não se toma. E você sabe bem disso. Homem tem palavra!
Moral da história: Sempre há um pé ideal para cada sapato. Quando se é sapato, é sempre aconselhável ficar esperto e buscar o pé ideal para você. Se você é dono de sapatos, avalie melhor o material que tem em mãos. Se eles forem descobertos por outro, você dançou (descalço!). Até o próximo!
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