“Toda moeda tem dois lados. Não seja ingênuo”
Já li e ouvi muito sobre a capacidade que o ser humano tem de se autoiludir. Há muitas teses e estudos sobre isso. Às vezes, racionalmente sabemos o que fazer, mas a emoção domina e nos leva para a direção oposta, ignorando totalmente a razão e acreditando em coisas que, de fato, não existem ou são bem diferentes na realidade. Pessoas que não conseguem sair de um investimento financeiro mal sucedido porque acreditam que o jogo vai virar (mesmo tudo mostrando que não vai) e as perdas serão recuperadas. Pessoas que compram, em estado de profunda emoção e convicção, um produto caro e depois descobrem que fizeram um péssimo negócio. Isso é muito comum e creio que todos nós já cometemos um erro desses, em maior ou menor escala.
Mas quando se trata de decisões envolvendo a nossa carreira, um erro desses pode custar bem caro. Uma interpretação equivocada ou uma crença em uma realidade que não existe representam um barril de pólvora quando o assunto é carreira. Refiro-me hoje a um ponto que tem me chamado cada vez mais a atenção – o número de pessoas que querem ter o seu próprio negócio, sejam jovens logo no início da carreira ou profissionais que cansaram de ser empregados e decidem virar empresários.
O mundo atual é cheio de oportunidades, é verdade. E acho legítimo que todos queiram criar a sua própria empresa e construir o seu “império pessoal”. Ser dono do próprio negócio, não ter chefe, não precisar se envolver em “politicagens”, decidir o que fazer com o seu horário e, principalmente, ser dono de todo o resultado do sucesso do negócio é fantástico. Quem não quer isso? Quem, enquanto empregado, já não parou um dia e pensou que trabalha duro para outros ficarem ricos?
O único problema que reside neste assunto é que muitas pessoas, pelos motivos citados no início, só querem enxergar um lado da moeda – o lado bom. A vontade de ser empresário de alguns é tão grande que ofusca a visão e impede uma análise mais realista dos fatos. Nem vou começar a contar casos de pessoas próximas a mim que falam constantemente que querem ou que vão fazer isso. Os discursos são sempre os mesmos. E o erro também. A maioria simplesmente não tem a menor noção do que é ser, de fato, dono de um negócio. Elas se recusam a virar a moeda e olhar para o outro lado.
Pois bem, resolvi virar a moeda e contar algumas coisinhas básicas do mundo dos empresários, para que ninguém mais (pelo menos quem ler este artigo) tenha uma visão distorcida ou romântica de ter um negócio. Ser empresário é bom. Aliás, é muito bom. Mas não é só alegrias não. Não mesmo…
Vamos começar pela mais importante de todas – a remuneração. Nenhum empresário tem garantias de quanto vai ganhar. No começo, na maioria dos casos, trabalhamos sem receber e tendo que gastar nossas economias até o negócio decolar. Empresário não tem direito a férias, 13º salário, salário-férias e FGTS. Ou seja, quem está acostumado a ver um depósito na conta todo dia 05, tem que pensar bem se vai ter estômago para perder isso.
Empresário não é dono do seu tempo, como os ingênuos insistem em acreditar. Isso não é verdade. A empresa é dona do nosso tempo. E garanto que ela exige muito mais do que empregos tradicionais. Empresário trabalha muito, mas muito mais do que empregado. Esse papo de “fazer o horário que quer” está mais para piada do que outra coisa. Não acredita? Converse com alguns empresários e pergunte.
Sem dúvida alguma ser dono do próprio negócio é muito bom. Quem pensa em trilhar este caminho, não desista. Mas tenha muita, mas muita mesmo, consciência de que a vida de empresário é muito dura, corrida e repleta de riscos decorrentes do negócio, do setor e da economia. É preciso ter muita disciplina, força, determinação e foco. Eu, que já sentei dos dois lados da mesa, falo com conhecimento de causa. A mudança é ótima, desde que feita com consciência e sem romantismo. Até o próximo!
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