“Pessoas não confiam em empresas. Pessoas confiam em pessoas”
Não faz muito tempo que tratei deste tema, mas tangenciando uma outra discussão sobre gestão de pessoas. Hoje quero dedicar uma análise completa sobre o que, na minha visão, é uma ficha que está demorando demais para cair na cabeça dos empresários e líderes. Falo do paradoxo mais maluco que já vi na minha vida desde que me formei e comecei a minha carreira. Por um lado, todos sabem e dizem por aí que está cada vez mais difícil montar um time de profissionais de excelência nas empresas. E quando conseguem encontrar pessoas acima da média, estas ficam pouco tempo e saem assim que aparece uma “oportunidade melhor”. Por outro lado, as empresas continuam achando que a marca corporativa, a história da empresa, o seu porte ou seus valores declarados servem para alguma coisa quando o assunto é atração e retenção de talentos. Lamento dizer, mesmo sabendo que muitos não concordam, mas estas coisas já serviram no passado. Hoje não valem nada. Ninguém mais fica em uma empresa porque ela é global, tem uma marca conhecida ou está entre as melhores em algum quesito. Não fica mesmo. Estes fatores podem até ajudar, mas não retém mais ninguém, muito menos os melhores.
Quando comecei a minha carreira, há 20 anos, e fui trabalhar em gigantes multinacionais (passei por quatro), quase ouvi dos meus superiores que eu deveria “ajoelhar no milho todo dia e agradecer a Deus por estar ali”. Embora achasse que realmente era uma honra poder trabalhar em uma empresa centenária, global ou com uma marca forte, nunca achei que estas “coisas” eram suficientes para eu ficar ali dando o melhor de mim para sempre. Tanto é que não fiquei mais de cinco anos em nenhuma. E hoje, mais do que nunca, vejo meus alunos e ex-alunos deixando empresas como marcas fortíssimas para irem trabalhar em Start Ups (empresas que acabam de nascer) ou em empresas menores e não globais. E saem sem a menor cerimônia, sem a menor dor na consciência e com elevada convicção. E todos, absolutamente todos, com os quais tenho a oportunidade de conversar, saíram porque deixaram de acreditar ou respeitar algumas pessoas (principalmente seus líderes) da empresa anterior. Ou seja, quando as relações-chave de confiança, admiração e respeito se rompem, não há mais nada que segure um talento. Ele sai, sem dó.
Bom, quem critica tem que sugerir. Portanto vamos à minha visão clara e pragmática sobre o que acho deste abismo. A minha conclusão é uma só: Empresas não existem! Neste século, mais do que nunca, empresas são apenas um logotipo em um pedaço de papel. Mais nada. As pessoas não confiam em empresas. As pessoas não acreditam em empresas. As pessoas não são fiéis a empresas. Até porque, empresas são compradas, vendidas, fundidas, mudam de estratégia ou de líderes. E isso pode, num piscar de olhos, jogar tudo o que as pessoas acreditavam no lixo. Perdi a conta das vezes que ouvi a seguinte frase: – Mudou tudo lá. A empresa não é mais a mesma. Não acredito mais naquilo.
Agora me responda, então, qual é a única coisa que pode gerar atração e fidelidade? Minha resposta: As relações pessoais. São pessoas que atraem pessoas. Conheço muitos casos de pessoas que, ao saírem de uma empresa, levam uma legião consigo, porque estes sabem que onde aquela pessoa estiver, irá ser fiel aos seus valores e terá uma postura já conhecida e admirada.
Esta é a minha visão. As empresas acabaram. O poder das marcas, no que diz respeito a atração e retenção de talentos, está diminuindo dia a dia. O que realmente importa e o que realmente gera atração e vontade de ficar são as relações pessoais. Infelizmente muitas empresas ainda não perceberam isso e não agem no sentido de fomentar este viés. Entendo as razões, mas sigo com a minha convicção de que, no final das contas, “pessoas não são fiéis a empresas. Pessoas são fiéis a pessoas”. Até o próximo!
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