“Antes de criticar, olhe-se no espelho”
Um dos temas mais debatidos hoje no mundo empresarial é o conflito de gerações. Ouço críticas diárias de gestores e profissionais de recursos humanos a respeito dessa nova geração, apelidada de Geração Y, de Nativos digitais, e por aí vai. Para muitos, esta geração é um horror. São jovens que subvertem a hierarquia, são preguiçosos, rebeldes, erotizados e pervertidos, fazem tudo ao mesmo tempo, não são profundos em nada, escrevem errado, leem pouco, abreviam tudo, não têm paciência para esperar nada e são poucos leais às empresas. Um Diretor de RH de uma grande empresa me confessou recentemente que está arrancando todos os cabelos da cabeça. Segundo ele, em 2013, um terço dos jovens de 18 a 25 anos que a empresa contratou pediu demissão no mesmo ano de 2013. “Não sei mais o que fazer para atrair e reter profissionais desta nova geração”. Enfim, o cenário de guerra está montado e a carnificina começou. Quem nasceu antes de 1980 tem tido muitas dificuldades de convivência com esta nova geração.
Bom, quero começar esta conversa dizendo que conflito de gerações não é fato novo. Nunca foi. Desde o Velho Testamento, existem pessoas de diversas idades convivendo em um mesmo momento. Em qualquer época da história havia pessoas de 0 a 70 anos dividindo o mesmo espaço, seja na dimensão familiar, social ou profissional. Aristóteles, em 284 a.c., já reclamava dos mais jovens e dizia que eles eram insuportáveis. O ponto principal, portanto, não é o conflito de gerações. Este barril de pólvora que temos hoje nas empresas acontece por outro motivo. O que muda radicalmente hoje é que, talvez, essa seja a primeira vez na história que uma geração tem mais acesso à informação do que a sua antecessora. Com a internet e a conectividade global, o que antes era de total poder dos mais velhos (informação) hoje está totalmente democratizada entre os mais jovens. Este “pequeno” detalhe muda tudo na relação entre gerações, porque posse de informação gera poder ou, pior, sensação de poder.
Também discordo radicalmente de alguns adjetivos citados anteriormente. Vamos analisar alguns com mais calma. Sugiro para quem acha que esta geração é rebelde que reveja algumas fotos de Woodstock antes de fazer este juízo de valor. Quem considera esta geração erotizada e pervertida, lembro que a música que fez sucesso há 20 anos era a dança da boquinha da garrafa (para não citar outras atrocidades musicais da época!). Já, para quem acha que eles abreviam tudo, lembro que o termo “vc”, usado hoje nas redes sociais como abreviação de “você”, já se escreveu “Vossa mercê” e depois “Vosmecê”. Essa mania de abreviar, de obedecer à famosa lei do menor esforço, foram nossos avós, bisavós, portanto, vem de longe. Para quem acha que eles são rasos em tudo, converse com um adolescente que tem coleção de Cards de Pokémon e veja o nível de conhecimento que possuem sobre os personagens. Por fim, sugiro, para quem acha que esta geração não lê, que trate de conhecer o tamanho dos livros da série Harry Potter, Jogos Vorazes ou dos livros de John Green. Entre eles, “A culpa é das estrelas”, sucesso absoluto nas livrarias e nos cinemas.
Ou seja, caro leitor, esta geração de nativos digitais, que hoje representa 50% da população ativa e que irá representar 80% até 2020, está sendo criticada de forma exagerada e equivocada. Esta geração é interessantíssima e tem muita coisa boa para oferecer às empresas. O que acontece é que a grande maioria insiste em só analisar os seus pontos fracos, mesmo tendo cometido “erros” igualmente questionáveis no passado. Esta geração tem competências muito úteis para as empresas, mas há de se saber engajá-los na causa. Eles são profundos sim, mas naquilo que lhes interessa. Buscam atalhos sim e querem que as coisas aconteçam rápido, e daí? Quem não quis igual na idade deles que atire a primeira pedra.
O desafio hoje é maior do que simplesmente criticar. O desafio é criar um ambiente na empresa em que esta geração possa ser motivada e onde suas competências possam ser potencializadas. Até o próximo!
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