“Só mude quando tiver resposta clara para duas perguntas”
Esta semana recebi um email (bem longo) de um assíduo leitor. Ele me relatou uma situação profissional que está vivendo e que o fez me perguntar, ao final do mesmo, se está ou não na hora de mudar os rumos da sua carreira. Os fatos nem interessam, mas o ponto é que, assim como muitos que conheço, ele está incomodado com a sua situação atual e com as suas perspectivas futuras. Neste caso específico, ele ainda me questiona e pede a minha opinião sobre a possibilidade de não procurar outro emprego e abrir o seu próprio negócio, no mesmo ramo em que trabalha e conhece bem.
Confesso que me sinto bastante incapaz quando recebo uma consulta como esta. Embora me sinta lisonjeado pela confiança e respeito quando alguém pede a minha opinião, é muito complicado opinar sobre a vida e a carreira de alguém. Se já é difícil com amigos e pessoas mais próximas, é ainda mais com pessoas mais distantes e que não conhecemos bem. Mas, como não posso me eximir de uma resposta, preferi dá-la neste texto e de forma mais genérica, até porque acredito que muitos podem estar passando pelo mesmo dilema.
Bom, na minha carreira profissional eu mudei várias vezes. As primeiras foram muito sofridas, confesso. O medo de tomar a decisão errada ou de me arrepender era do tamanho do litoral brasileiro. Nem contei quantas horas de sono perdi em cada uma delas. A partir de um determinado momento, quando vi que a mudança está mais para uma roupa que usa todo dia do que em ocasiões especiais, decidi criar os meus indicadores pessoais para saber qual é a hora certa de mudar e como executar esta mudança, sem medo de arrependimento e sem a menor chance de voltar atrás.
Vamos ao primeiro indicador – a hora de mudar. Vou ser muito assertivo e quase matemático. Para mim, o melhor indicador para saber se a minha situação profissional é boa e se devo continuar onde estou é o tempo que levo para dormir depois de um dia de trabalho e a vontade de ir trabalhar no dia seguinte. Se você perde continuamente minutos de sono por causa do trabalho e se sente sem a menor vontade de retomá-lo no dia seguinte, já deu. Se isso acontece uma vez ou outra, pode até ser um fato isolado e passageiro. Mas se acontece continuamente, chegou a hora de mudar. Nem todos concordam com isso, mas este é meu indicador número 1. Quando o trabalho nos rouba horas de sono chegou a hora de mudar.
Até esta conclusão, vários chegam. Ouço de muitas pessoas que já concluíram que precisam mudar ou que decidiram mudar. Mas aí vem a segunda questão, onde a maioria trava, não consegue resolver e fica se violentando onde está. Refiro-me à consciência que precisamos ter de que a mudança é necessária e, portanto, ela deve ser feita, independente do risco de dar certo ou não. Se eu não quero ficar onde estou e como estou, preciso arriscar. Se der certo, ótimo. Se der errado, pelo menos saí do meu estado atual, que me aprisionava na infelicidade. Esta certeza absoluta de que não quero mais viver como vivo hoje é um ingrediente obrigatório para o sucesso em mudanças. A primeira coisa que deve estar na nossa consciência é isso. – Não quero mais isso para mim e ponto. É quase como usar aquela frase “pior do que está não vai ficar”. É claro que sempre é possível que as coisas piorem, mas a certeza de que não quero mais o que tenho hoje, nos dá uma força enorme durante a mudança. E isso ajuda muito a fazer “o novo” dar certo, por mais arriscado que seja. Esta segunda decisão nos dá uma importante clareza de que o risco faz parte da mudança. Ele precisa ser calculado e assumido. Este é o mundo dos adultos – decidir, fazer escolhas, fazer renúncias, colher os frutos e pagar o preço. Quero continuar onde como estou? Sim ou não. Conheço e estou disposto a correr os riscos da mudança? Sim ou não. Responda e mude. Só assim evoluímos. Só assim crescemos, como profissionais e como pessoas. Até o próximo!
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